Moda - a psicologia do vestir
“A moda é uma variante oblíqua de se lutar contra a morte. Ora na velhice tal luta é mais problemática. E é por isso que no velho a moda é mais ridícula.”
Vergílio Ferreira
Será possível não comunicar? Para o semiólogo, “tudo é COMUNICAÇÃO”. A sociedade fala. O vestuário é comunicação – a moda espelha a sociedade
Na sombra da moda, o fenómeno da reprodução social mostra comportamentos individuais e colectivos do indivíduo. De facto, a moda não suprime a identidade, mas aponta-a com o dedo. Na dialéctica conformismo/mudança, a difusão da moda surge como um sentido - o “vestir” é uma tomada de consciência
Se o fenómeno moda for vivido por cada sujeito como se de uma passagem se tratasse, então, o poder do vestuário será evidente e a sociedade será perene. Isto porque a moda juvenil mais não é – nem deve ser – do que o sonho, o mundo imaginário, a explosão de inovação e a recusa de tudo o que traz a etiqueta de “adulto”.
E porque a “psicologia do vestir” é um fenómeno que se generaliza, as limitações soció-económicas caracterizam a triste caricatura da moda e do consumo no mundo jovem, o que resulta de uma aparente perda do significado do “modo de vestir” no que respeita aos jovens. O consumo, evidentemente mais desencantado e realista, numa realidade absolutamente conformista, revela-se hoje como o fim de uma irreverência ontem conquistada. Não que o autor defenda uma ideia da total integração do homem, porque “a moda será sempre um “modo de viver” digno de consideração”.
E afinal o que é a “psicologia do vestir”? Para mim reside no domínio do psico-social e resulta na comunicação. É a vontade de ser diferente e, ao mesmo tempo, igual. É assumir uma vida social e individual de acordo com ideologias e identidade. É ser rebelde para nós próprios e talvez para com os outros. E nos dias de hoje como é que isso se traduz? Na minha opinião, num domínio económico e propagandista, ao qual todos parecem aderir. Por isso assistimos a fenómenos como os de uma aparente moda jovem, em que qualquer semelhança entre milhares de jovens é pura coincidência! É certo que a moda é um fenómeno de massas, e é assim que deve ser visto. Mas essa característica serve uma lógica propagandista e pseudo publicitária, que ameaça tornar a moda numa massa compacta, sem identidade e sem cultura própria. Considero que os mitos devem permanecer mitos, que o médico deve usar bata e o padre batina, que o jovem deve ser irreverente à sua maneira, que o imaginado prevaleça e que mesmo debaixo de um olhar moderno que ainda tem de ser construído, a moda seja objecto de espanto. Por isso, acredito que só se pode construir uma modernidade da visão se se eliminar a racionalização do olhar, e, obviamente, se recuperar convenções de todo o sempre. Só assim se puderá construir mitos dinâmicos no âmbito da “psicologia do vestir” e dar à moda aquilo que lhe pertence: a arte de representar o mundo e de se representar a si mesma. Na minha opinião, só desta forma será possível impedir que a sociedade consumista aniquile a moda na sua verdadeira essência, enquanto fenómeno social e comunicativo.
Como disse Giorgio Livolsi, “a moda será sempre um “modo de viver” digno de consideração”.
Eco, Umberto e alii (1975) – Psicologia do vestir, Arte e Produção, Lisboa, 89 ps.
Bibliografia
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